quarta-feira, 6 de março de 2013

A Minha Janela, a Tua Janela



Olhares, maneiras de ver, perspectivas sobre o mundo, um mergulho na realidade, uma passagem para um mundo mágico. Assim são as janelas, pontos de partida, pontos de vista, viagens, ir e voltar sem sair do lugar. A janela é um ângulo de visão que nos confere uma opinião, é uma extensão do olhar que nos permite participar naquilo que observamos. Uma participação passiva? Sim, talvez, num primeiro momento. Mas pode tornar-se extremamente activa no nosso íntimo. Na maioria das vezes, a janela é apenas um ponto de partida para chegarmos a nós, um momento de contemplação que se transforma em reflexão, que nos leva à nossa gruta, que permite uma conversa interior, sobre medos, sonhos, aflições, emoções que se atropelam, uma viagem ao nosso inconsciente. Quando regressamos, continuamos ali, diante da janela, mas se prestarmos atenção conseguimos ver o nosso rosto reflectido no vidro. Tínhamos estado diante de nós o tempo todo e nem sequer nos apercebemos. Tantas vezes precisamos de conversar e nem damos conta de que há sempre alguém disponível, alguém com um sorriso sempre pronto: nós. Mudamos de janela. Outra realidade se apresenta e outra faceta nossa vamos conhecer. De um décimo andar, temos uma visão com distanciamento, de um primeiro andar um olhar mais próximo. Não deixam de ser duas perspectivas diferentes sobre a mesma realidade, distintas mas ambas necessárias. Pomos flores na janela, pintamos o caixilho, cuidamos dela, colocamos cortinas cheias de cor, sóbrias, opacas, translúcidas, maquilhamos o nosso olhar, pintamos o nosso estado de espírito e apresentamo-nos ao mundo. Através da janela, recebemos a luz do sol, a luz da lua e se a abrirmos, as potencialidades daquilo a que temos acesso aumentam: podemos beber da realidade, saborear os aromas que a brisa nos traz. Com a janela aberta a experiência do olhar torna-se mais intensa. Os cinco sentidos são ferramentas fundamentais para absorver cada pormenor que dará um sentido diferente à nossa perspectiva. A carícia que o vento nos faz quando nos toca na pele, os cheiros que inspiramos e nos fazem adivinhar sabores, os ruídos que ajudam a concretizar aquilo que observamos. Saio à rua. As janelas continuam lá. Mesmo numa rua deserta, elas continuam a ser poderosas. Sinto-me observada. Oiço sussurros. Posso não ver um rosto por detrás da janela, mas sei que ali já habitou um olhar, um olhar agora em silêncio, com uma história guardada, uma história contida, um grito evitado. Nas minhas fantasias, acho sempre que as janelas têm vida própria, como se todas as vivências que cada pessoa partilhou com a janela fizessem agora parte dela. Para mim, as janelas são contadoras de estórias. Quantas vezes abrimos mais do que uma janela para arejar a casa e somos invadidos por uma corrente de ar. Porque não dizer uma corrente de estórias que entram por ali a dentro e que nem sempre conseguimos digerir. A cada janela é preciso dar o seu tempo, o seu espaço, respeitá-la e dar-lhe a devida atenção, porque estórias minhas, tuas, nossas estão prestes a ser contadas.

1 comentário:

  1. .... dá que pensar de facto!! Gostei muito de ler estes pensamentos... :)
    Beijinhos

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